Noite de estreias

Sexta-feira dia 3 de Maio foi uma noite com alguns estreantes no local de observação. Entre eles esteve a família Fino constituída pelo Rui, pela Sónia e o filho Mateus.

Esta família assistiu á minha palestra de 6 de Abril no OLA Observatório Lago Alqueva e o Rui identificou-se com o meu inicio de astronomia pois ambos “compramos o telescópio para o filho”. Ficou desde logo o contacto para uma visita ao mítico sitio onde a astronomia acontece, a Atalaia.

Também se estreou o Alexandre Figueiredo que há já algumas semanas tentava uma abertura nas nuvens para se juntar aos “observadores” e finalmente conhecer local.

Infelizmente não participei mas ficam aqui os relatos de quem esteve por lá, segue o do Rui e do Pedro Fernandes e Pedro Costa:

Rui Fino ………………………………………………………………………………………………….

Na sexta-feira, a estrela tripla (Rui, Sónia e Mateus) foi `a Atalaia para a sua 2ª sessão astronómica com o seu Skywatcher 200/1000 Goto SynScan e 1º vez na Atalaia.

Foi uma verdadeira aventura! O facto de nós, os adultos, trabalharmos até às 20:30 e residirmos na zona de Sintra faz com que chegássemos por aquelas bandas já por volta das 22:30. Ao chegar ao local não foi fácil encontrar o carreiro certo, pois o caminho que nos parecia à partida o correcto (por estar limpo e ser de noite) era na verdade o campo lavrado. Assim e para não darmos bandeira, não acendemos os médios e…. depois de umas idas e voltas, estrada-portão-carreiro, lá conseguimos ir até ao local de observação.

Ao chegar, deparamo-nos com o João Brázio e mais dois companheiros de que agora não nos recordamos os nomes (pedimos desculpa). Os Pedros (Fernandes e Costa) estavam nas filmagens com o resto da equipa dos audiovisuais (a Luísa e outros que na penumbra da noite não distingui quem e, também por não querer atrapalhar mais os trabalhos, visto o já atrás exposto).

Montamos o Telescópio e material já por volta das 23: e qualquer coisa. Observamos a M51, estrela dupla (Mizar), contemplamos algumas constelações já nossas conhecidas e acrescentamos outras que ainda desconhecíamos, observamos M104 em sugestão do Pedro Costa e para finalizar o espectacular Júpiter. Deu ainda para testar a nossa Barlow caseira que está cada vez melhor. Fizemos também uma pausa para o chá e para os bolinhos (que neste caso eram bolachas com chocolate em forma de estrelas).

Hora de empacotar tudo de volta, pois amanhã é dia de trabalho e o jovem astrónomo tem muito que estudar, pois o período é curto e não quer baixar a média.

Foi mais uma vez uma grande experiência. A hora da partida deixa sempre saudades de poder ficar mais um pouco, há que esperar pelas férias do Mateus, para podermos estar madrugada fora.

Pelo exposto queria-mos pedir desculpa, se não cumprimos o código de conduta na sua totalidade. Tudo fizemos para que fosse cumprido o mais rigoroso possível, só tínhamos receio de ficar encalhados algures.

Saudações Astronómicas,

Rui, Sónia e Mateus …………………………………………………………………………………….

Pedro Fernandes ………………………………………………………………………………………….

Na impossibilidade de ir de sábado para domingo para Santa Suzana, eu e o Pedro Costa combinámos uma ida à Atalaia, sexta para sábado, rápida, para testes da nova caixinha controladora de fitas anti-condensação.

De súbito tudo se precipita. A Luísa pede a nossa disponibilidade para as famosas filmagens para a semana 10/11 do corrente. O Pedro Costa por razões familiares felizes vai estar impedido de colher fotões por uns tempos.

“Ui, então vai ter de ser este final de semana mesmo”, exclama Luísa “mas precisamos de algum sossego e isolamento” exigência do guião pré-estabelecido.

Quando chegámos, ainda de dia, dirigimo-nos ao nosso cantinho na companhia da realizadora e da técnica de som Mónica. O João Brázio já lá estava preparando a montagem da sua tenda.

Pedimos a compreensão dos presentes e lá ficámos fora do spot principal. No entanto a elevada sensibilidade da captação sonora exigia toda a contenção nas redondezas.

A primeira cena seria a chegada do Pedro Costa, respectivos cumprimentos e combinação da estratégia de observação para aquela noite, como aliás é o nosso introito habitual.

Fomos de imediato “electrificados” de forma a captarem tudo o que disséssemos. A nossa técnica de som é perita em nos assaltar os bolsos para substituir as baterias dos emissores dos microfones com a maior das subtilezas. Simpática, acrescenta uma coloração colombiana ao português seguro que já domina e revela um conhecimento admirável da nossa cultura.

A câmara espiolhava constantemente toda a fase de montagem dos telescópios e a girafa captava todo o som ambiente para além dos microfones de lapela.

Anoitece e cai o pano de cena desenrolando perante a argúcia da camara toda a panóplia de pontos luminosos das mais variadas magnitudes e tonalidades. Incidia a atenção em especial na captação da nossa interação “Ó Pedro vê só esta M51, hoje está espectacular (eu cá acho que está sempre) e há aqui um ponto nos braços da galáxia maior que acho ser uma supernova” e lá vou eu mergulhar naquelas 12”. Claro que depois vingo-me e apesar das minhas 8 fraquinhas polegadas exijo um espanto equivalente.

Da mesma forma percorremos as mais ténues NGC’s e até nos abstraímos das captações audiovisuais que nos cercam. A M17 também nos alimentou a retina com fotões de há 4,2 mil anos luz. E outras, ainda mais distantes, interessantes como da primeira vez. E as conversas que nos proporcionam, umas vezes mais filosóficas outras pragmáticas.

Á nossa volta uma miríade de planos, de detalhe, plongée e contra-plongée, travellings, zooms, eu sei lá que mais, de que nos apercebíamos após uma aturada pesquiza ocular dos mais ténues corpos celestes.

O Pedro Costa desenhou novamente mais uns corpos celestes para a colecção particular arrebatando para si o foco cinematográfico.

O intervalo para recarregar baterias (as nossas e as das máquinas) serviu também para iniciar a Mónica no conhecimento do firmamento. Atenta, muito interessada, foi brindada com o primeiro meteoro de encher o olho, e logo de seguida espantou-se perante um Júpiter ainda perturbado pela massa atmosférica. El señor de los anillos foi prato de sustança depois de um cházinho servido pelo Pedro Costa.

A realizadora Luísa Mello recordou-nos que ainda havia algum trabalho pela frente. O guião não perdoa.

Eram umas quatro e tal da madrugada quando as arrumações de equipamentos e seu acondicionamento nas viaturas permitiu que terminássemos uma noite diferente, cheia de experiências novas proporcionadas por actividades à partida tão pouco prováveis.

Espero que a nossa colaboração permita àquela equipa o trabalho que corresponda às suas melhores espectativas. Não é vulgar tão elevada concentração de simpatia em somente duas pessoas tão únicas.

O tema do trabalho é a observação, não só a astronómica, também a observação de aves e até vão ter um observador de insectos. Ficamos ansiosos para ver os resultados.

Pedro Fernandes ………………………………………………………………………………………..

Pedro Costa. ……………………………………………………………………………………………….

Partilho convosco os desenhos que fiz na sexta-feira na Atalaia.
O Galaxy Cluster da Virgem não me deixa de espantar, já deve estar a chegar Uranometria 2000.0 que comprei em segunda mão, pois alguns dos objectos que desenho só consigo identificar em casa, com esta nova aquisição esta tarefa fica facilitada e posso matar a curiosidade enquanto observo.

Nesta sessão de observação dedicada ao cinema acabei por fazer apenas dois desenhos.

No primeiro desenho temos a M59 (à esquerda), M60 (à direita) e a pequenina NGC 4638 (em cima), que só consegui identificar em casa. Em casa descobri também, que a M60, que é a mais proeminente no FOV, tem uma companheira, a NGC 4647, formando o conjunto Arp 116, mas esta última não se mostrou visível.

(c)Pedro Costa
(c)Pedro Costa

No segundo desenho, temos em baixo a M58, e mais duas (ou três) galáxias bastante ténues que só identifiquei posteriormente. A mais em cima, durante a observação, tinha um formato estranho, comentei até com o Pedro Fernandes, que estava a ver um croissant… na verdade são duas galáxias em plena interação são elas a NGC 4567 e NGC 4568, formam um conjunto muito interessante também conhecido por Siamese Galaxies ou Butterfly Galaxies. Um pouco mais em baixo, podemos observar a NGC 4564, segundo consta esta pequenita tem no seu centro um buraco negro super-massivo, com uma massa de 56 milhões de sois!!! 



Pedro Costa ……………………………………………………………………………………………………….

Também estava por lá o João Brázio nas suas experiências a partir da sua tenda astronómica. Com o seu setup fez o registo da M17 the Omega Nebulae .

(c)Joao Brazio

Sobre João Gregório

Astrónomo amador activo desde Natal de 2002, altura em que comprou para o filho um telescópio. Gosta de fotometria e de objectos "vivos" ... tudo o que se possa transformar em gráfico. Conta com mais de duas dezenas de co-descobertas de exoplanetas